terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

CEGOS DE CIÚMES

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Manifestado até mesmo por animais, esse sentimento tem ajudado cientistas a fazerem descobertas importantes a respeito da influência das emoções na maneira como percebemos o mundo. Mecanismo natural de detecção de ameaças, pois nos protege de experiências arriscadas; em excesso, porém, é prejudicial.


 Fernanda Ribeiro
 
Há mais de 400 anos, William Shakespeare tratou da “doença da suspeita” em uma de suas obras mais populares: Otelo, o mouro de Veneza. A desconfiança de que a mulher mantinha relacionamento com um rapaz mais jovem – despertada e alimentada por insinuações de um subordinado, Iago – levou-o a buscar e a acreditar ter encontrado provas da traição em fatos triviais. O escritor referia-se ao ciúme como “o monstro de olhos verdes”, uma metáfora sobre a cegueira induzida pelo sentimento que faz entrever como provável ou certo o que apenas é possível de acontecer.

No relacionamento amoroso, no entanto, é natural sentir ansiedade ao perceber que algo ou alguém pode reduzir o espaço afetivo que ocupamos na vida do parceiro. “O ciúme normal é transitório e se baseia em ameaças e fatos reais. Ele não limita as atividades – nem interfere nelas – de quem sente ou é alvo de ciúme e tende a desaparecer diante das evidências”, define a psicóloga Andrea Lorena, pesquisadora de ciúme excessivo do Laboratório Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP). O ciúme extrapola as fronteiras do saudável quando se torna uma preocupação constante e geralmente infundada, associada a comportamentos inaceitáveis ou extravagantes, motivados pela ansiedade de tirar a limpo a infidelidade do parceiro. “No ciúme excessivo, o medo de perder a pessoa amada vem acompanhado de emoções específicas – raiva, medo, tristeza, ansiedade – e pensamentos irracionais. ‘Será que ele/ela está me traindo?’ é um pensamento frequente. Quase sempre há prejuízos para quem sente, para quem é alvo e para o relacionamento”, diz Andrea.

Não raro os pensamentos irracionais se traduzem em comportamentos compulsivos, sustentados pela ilusão de que é possível controlar o que o parceiro faz ou sente, como verificar agendas, registro de ligações no celular, seguir o parceiro, conseguir senha de acesso ao e-mail, checar faturas de cartão de crédito e fazer visitas-surpresa para confirmar suspeitas. Muitas vezes as preocupações são acompanhadas por sintomas físicos, como sudorese, taquicardia, alterações no apetite e insônia. De acordo com Andrea, uma das características mais comuns da pessoa excessivamente ciumenta é a baixa autoestima. “Isto é, ela não acredita que tem valor e merece respeito. A priori, é alguém ‘traível’ e abandonável, pois na verdade acredita que a honestidade e a reciprocidade nas relações não valem a pena. É um sentimento com origem na infância e na relação com os pais, em que provavelmente a pessoa foi negligenciada e desrespeitada. Somam-se ainda fatores como insegurança, medo, instabilidade e a própria desorganização pessoal”, diz a psicóloga.

No Brasil, o PRO-AMITI e a Santa Casa do Rio de Janeiro oferecem tratamento gratuito para ciúme excessivo. A abordagem combina atendimento psicológico, em grupo ou individual, e psiquiátrico. É comum a comorbidade com transtornos de depressão e ansiedade que, se diagnosticados, são tratados com medicamentos. “O processo psicoterápico trabalha a melhora da autoestima e a segurança com o próprio relacionamento. Com o tempo, o paciente percebe que comportamentos como investigar o que o parceiro faz na rede ou vasculhar seus pertences são desnecessários”, diz Andrea.

O ciúme excessivo é um traço frequente de outro quadro: o amor patológico (AP), com características semelhantes à dependência química. Ele ocorre quando o comportamento saudável de atenção e cuidado para com o parceiro, característico do amor, começa a ocorrer de maneira repetitiva e frequente. A pessoa se ocupa do outro mais do que gostaria e abandona interesses e atividades que antes valorizava. Segundo a psicóloga Eglacy Sophia, também do PRO-AMITI, ciúme excessivo e amor patológico compreendem medo intenso da perda, baixa autoestima e insegurança emocional. “Muitas vezes os questionamentos sobre a fidelidade do parceiro são calcados em motivos plausíveis. Em geral, uma entrevista cuidadosa com o paciente revela dados sobre o comportamento do parceiro que poderiam causar ciúme em qualquer pessoa, como telefonemas secretos, distanciamento afetivo e físico frequente e confirmação de traições passadas”, diz a psicóloga.

Apesar de existirem poucos estudos relacionando o ciúme patológico com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), os pensamentos do ciumento costumam ser similares aos das pessoas que têm o distúrbio: são intrusivos, desagradáveis e incitam atitudes de verificação. “Pacientes que reconhecem seus comportamentos como inadequados ou injustificados apresentam mais sentimentos de culpa e depressão; os demais demonstram raiva e condutas impulsivas mais pronunciadas”, diz Eglacy.

 
 Além da conta?
 
Especialistas do Laboratório Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) elaboraram um teste com cinco perguntas que avaliam o nível de ciúme. Reposta afirmativa à maoria deles pode indicar ciúme excessivo e necessiidade de procurar ajuda profissional.
  1. Você pensa frequentemente que seu parceiro (a) pode ser ou é infiel a você?
  2. Costuma mexer nos pertences dele (ou dela) em busca de informações sobre as suspeitas de infidelidade?
  3. Já agrediu ou foi agredido (a) fisicamente por causa de ciúme?
  4. Evita situações nas quais ele (a) possa conhecer alguém por quem possa se interessar (como jantares, festas etc.)?
  5. Já cogitou espioná-lo (a)?

     

Internet: novo meio de vigiar

A maior parte de brigas por motivos de ciúme entre casais que usam o facebook está relacionada ao site.
 
Em uma cena do filme A rede social (The social network, 2010), o jovem Mark Zuckerberg tem uma ideia para incrementar o site de perfis sociais que acabara de criar: colocar a opção “status de relacionamento” – isto é, o usuário tem opção de descrever-se como “solteiro”, “casado”, “em relacionamento sério” etc. em sua página. Em poucos dias, a rede cai no gosto de universitários e seu número de usuários aumenta em progressão geométrica. Romanceada ou não, a passagem da cinebiografia do jovem bilionário Zuckerberg, criador do Facebook, a rede social mais popular da atualidade, reflete um aspecto real da rede: estudos mostram que ela não se tornou apenas uma via comum de flertar, mas também um meio de acompanhar atuais e ex-parceiros.

Segundo uma pesquisa da Universidade de Guelph, no Canadá, baseada nas respostas anônimas de mais de 300 universitários “compromissados” que usam o site, a maioria das brigas por motivos de ciúme estão relacionadas ao site – fotos colocadas por ex-namorados(as) e comentários deixados por amigos do sexo oposto são as principais causas. De acordo com a autora, a psicóloga Amy Muyise, a pessoa ciumenta na “vida real” tende a atribuir significados a mensagens e imagens postadas na rede com facilidade. “A interação do amado com um contato que ela não conhece pode ser motivo de desconfiança. Além disso, fotos e informações antigas lembram-na constantemente que o namorado(a) teve um vida amorosa antes dela”, exemplifica Amy.

Outro estudo, da Universidade Western, também no Canadá, revela que quase metade dos quase 1 bilhão de usuários do Facebook têm o(a) ex entre seus amigos virtuais. Um terço deles volta e meia (ou constantemente) visita o perfil do antigo amor e até mesmo da pessoa com quem suspeita que ele esteja se relacionando.


Para superar o sofrimento

Admitir as emoções negativas é o primeiro passo para aprender a lidar melhor com o ciúme. Para a psicanalista e doutora em psicologia clínica Mary C. Lamia, autora de Emotions! Make sense of your feelings (Magination Press, 2012, sem edição em português), analisar a origem da ansiedade, raiva e medo causados pelo medo de perder espaço afetivo é uma forma de aprender sobre si mesmo. "O que você acha de si mesmo e o que pretender ser? Houve experiências de perda e abandono que leva você a crer que isso pode acontecer outra vez? Pessoas que despertam ciúme costumam ter características que você gostaria de desenvolver? São questionamentos simples, mas que pode ajudar a reconhecer que muitas vezes o ciúme tem mais a ver com a relação com si mesmo do que com quem se ama", explica Mary.

Buscar ajuda profissional é uma maneira de explorar essas questões e também de melhorar o diálogo com o companheiro. "É importante compreender que condicionar a própria felicidade e bem-estar ao parceiro é um comportamento auto-destrutivo, de raízes mais profundas que a 'paixão' e o 'amor' que se acredita sentir. Relacionamentos saudáveis consistem em respeitar e valorizar a individualidade, tanto do outro como a própria", diz a psicanalista.



Leia mais na edição de fevereiro de Mente e Cérebro, "Como o ciúme distorce a realidade".





Fragmentos da reportagem extraidos da revista e do site. 

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7 comentários:

  1. Adorei o artigo, não conhecia a revista.
    Bom, segundo o mini teste eu não sou ciumenta \o/ E eu não acho que eu seja mesmo, sou a pessoa mais preguiçosa do mundo, e o ciume dá muito trabalho rsrs
    Acho o facebook péssimo para os ciumentos, tenho amigas que simplesmente vigiam o dia inteiro a vida do namorado ou dos ex, é de dar medo.

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    1. Ri muito com a sua preguiça de ser ciumenta, kkkkkkkkkkkk. Adorei essa.

      A sua amiga é louca. :p

      Eu sou ciumenta, mas não chega a tanto, o face nem me incomoda.


      ;)

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  2. Segundo o teste eu não sou ciumenta e eu acredito que não seja mesmo, porque tenho mais carinho pelos meus livros do que por pessoas. '-' KKKKK Adorei o artigo, eu não conhecia a revista.

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  3. Muito bom o post! ;) Eu acho que sou um pouquinho ciumenta, sim! haha

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  4. Nossa fiz o teste e percebi que sou bem ciumenta, Meu Deus!
    Gostei muito do artigo e me identifiquei com algumas coisas, a internet sem duvida é o melhor lugar para ''espionar''.

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  5. Eu acho ciume pura questão de insegurança. Tanto em relação a amizades quanto namoro mesmo. Se a pessoa está com você é porque te quer. Se trai, abandona! Comigo é no direto...=P

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